quinta-feira, 27 de novembro de 2014

"Eu cantarei os humildes 
os de língua travada 
e olhos cegos 
aqueles a quem o amor feriu sem derrubar.
 Cantarei o gesto dos que pedem e não alcançam a resignação dos santos 
o sorriso velado e inútil dos homens conformados. 
Eu cantarei os humildes 
 o homem sem amigos
 o amante sem esperança de retorno. 
Cantarei o grito de escuta universal 
e de mistério nunca desvendado. 
 Serei o caminho 
a boca aberta 
os braços em cruz a forma. 
Para mim 
virão os homens desconhecidos."
Hilda Hilst.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014
















"Dentro da igreja, ajoelhe-se. Numa festa, comemore. Durante um beijo, apaixone-se. De frente para o mar, dispa-se. Reencontrou um amigo, escute-o. Ou faça de outro jeito, se preferir: dentro da igreja, escute-o. Durante um beijo, dispa-se. De frente para o mar, ajoelhe-se. Numa festa, apaixone-se. Reencontrou um amigo, comemore. Esteja, entregue-se."
"Sou um pacifista meu bem, não piso nem numa formiga,
Só me agrada ver nascer, o que é bom sempre cultivo,
Mas concordo em matar uma coisa,
Traga aqui essa saudade pro querer ficar bem vivo."
"Mas eu nunca fui o tipo de gente que olha pra beleza e venera. Porque eu acho isso bobagem, porque a paisagem de dentro é sempre mais bonita. E se você me fala que fulano é lindo por causa do olho de cor diferente, por causa do sorriso branco, ou por causa do físico perfeito, eu sou obrigado a rir e dizer que nada disso vale, o exterior sempre perde para o tempo, sempre sucumbe à falta de maquiagem e à falta de mundo."
"Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Eu adoro todas as coisas e o meu coração é um albergue aberto toda a noite. Tenho pela vida um interesse ávido que busca compreendê-la sentindo-a muito. Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo, aos homens e às pedras, às almas e às máquinas, para aumentar com isso a minha personalidade. Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio e a minha ambição era trazer o universo ao colo, como uma criança a quem a ama beija. Eu amo todas as coisas, umas mais do que as outras, não nenhuma mais do que outra, mas sempre mais as que estou vendo do que as que vi ou verei. Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações. A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos. Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca."

terça-feira, 11 de novembro de 2014